Radiômica na odontologia: quando a imagem vira dado clínico
A tecnologia já é parte do dia a dia na odontologia, mas uma fronteira promissora avança rapidamente: a radiômica. Em vez de observar apenas padrões visuais, a radiômica transforma imagens como radiografias e CBCT em dados numéricos (texturas, formas, intensidades) que podem apoiar diagnósticos, planejar tratamentos e acompanhar a evolução com mais objetividade.
Na prática, isso significa sair do “parece” para o “medimos”. Com algoritmos que extraem centenas de características invisíveis ao olho humano, o cirurgião-dentista passa a contar com relatórios quantitativos que dialogam com a sua experiência clínica, reduzem incertezas e ampliam a previsibilidade.
O que é radiômica, em termos clínicos
Radiômica é o processo de segmentar estruturas de interesse (lesões, áreas ósseas, raízes, implantes) e extrair delas atributos matemáticos: heterogeneidade da textura, borda, forma, distribuição de cinza, entre outros. Esses atributos são organizados em painéis numéricos e podem ser analisados isoladamente ou combinados a modelos de inteligência artificial para reconhecer padrões associados a desfechos clínicos.
Importante: radiômica não substitui a avaliação do profissional, mas agrega uma camada de evidência quantitativa que melhora a decisão. É uma ferramenta de apoio, não uma sentença.
Aplicações possíveis na rotina
- Endodontia: quantificação de densidade e textura em lesões periapicais para acompanhamento objetivo de cicatrização; pistas adicionais na avaliação de microfraturas radiculares em CBCT.
- Periodontia e implantodontia: análise de textura óssea para estimar qualidade e padrão trabecular em áreas receptoras; comparação pré e pós-operatória baseada em números, útil para protocolos de manutenção.
- Patologia oral: diferenciação auxiliar entre lesões císticas e tumorais com base em assinaturas de forma e heterogeneidade, apoiando a indicação de exames complementares e a conduta.
- Ortodontia: mensuração de espessuras e assimetrias ósseas em CBCT com reprodutibilidade; monitoramento de remodelação em casos complexos.
- Trauma e reabsorções: avaliação quantitativa da evolução de reabsorções externas e internas, permitindo ajustes de plano e comunicação clara com o paciente.
Como começar sem complicação
Você não precisa virar cientista de dados para colher benefícios. Um fluxo básico e seguro já traz ganhos reais:
- Padronize a aquisição: protocolos consistentes de exposição, voxel e posicionamento reduzem variações. Salve em DICOM e registre o protocolo usado.
- Segmente com critério: use ferramentas de segmentação do próprio software de imagem ou soluções dedicadas. Quanto melhor a segmentação, mais confiáveis os números.
- Extraia as features: aplique módulos de radiômica para obter métricas de textura, forma e intensidade. Comece com um conjunto enxuto e interpretável.
- Compare no tempo: utilize follow-up quantitativo para monitorar resposta ao tratamento. Busque coerência: queda ou aumento de heterogeneidade, variação volumétrica etc.
- Integre ao laudo: traduza números em linguagem clínica: “redução de 23% na heterogeneidade da lesão em 90 dias”, por exemplo. Isso reforça a decisão e educa o paciente.
Boas práticas para dados confiáveis
- Reprodutibilidade: teste a consistência da segmentação com o mesmo examinador em momentos diferentes e, se possível, com outro colega. Se os números mudam muito, ajuste o protocolo.
- Qualidade da imagem: artefatos, ruídos e campos de visão mal definidos afetam as métricas. Revise antes de extrair dados.
- Interpretação clínica: números não “tratam” o paciente. Contextualize com exame clínico, história e objetivos do caso.
- Privacidade e ética: proteja dados DICOM e identidades. Compartilhe apenas o necessário e com consentimento.
Onde a radiômica ajuda mais no consultório
Três cenários práticos mostram o valor do dado mensurável:
- Planejamento e prognóstico: ao quantificar a qualidade trabecular em uma região candidata a implante, você associa o achado a sua experiência e define estratégias de preparo ou estabilização com mais previsibilidade.
- Acompanhamento com transparência: em endodontia, demonstrar que uma lesão periapical reduziu de volume e heterogeneidade ao longo de 3–6 meses sustenta a conduta e fortalece a confiança do paciente.
- Discussão interdisciplinar: números comuns a todos — periodontia, prótese, cirurgia, ortodontia — agilizam a conversa e reduzem idas e vindas.
Erros comuns e como evitá-los
- Pular a padronização: alterar voxel, FOV ou posicionamento entre exames inviabiliza a comparação. Crie um protocolo da casa e siga-o.
- Segmentar “de qualquer jeito”: um clique a mais ou a menos muda métricas de forma significativa. Invista alguns minutos na borda correta.
- Querer complexidade cedo demais: comece com poucos indicadores que você entende. Evolua para modelos mais sofisticados quando o time estiver confortável.
Indicadores que valem acompanhar
- Volume e forma: mudaram como esperado para o tipo de tratamento?
- Textura: heterogeneidade aumentou ou diminuiu de forma coerente com a fase de reparo?
- Repetibilidade: se você repetir a extração, os números se mantêm próximos?
O que vem pela frente
O movimento natural é a radiômica ficar embutida nos softwares de rotina, com painéis simples e relatórios prontos para o prontuário. Integrações com scanners intraorais e fotografia clínica permitirão um panorama 3D+tempo, conectando tecido duro e mole numa mesma narrativa quantitativa. Para a clínica, isso significa decisão mais rápida, comunicação mais clara e acompanhamento objetivo.
No fim, a radiômica não é um fim em si — é uma forma de dar números ao que você já observa, elevando a precisão sem complicar o fluxo.
Para ir além no dia a dia, considere soluções que integrem imagem, laudos e relacionamento com o paciente. Relatórios claros e comparáveis sustentam decisões e mantêm a agenda saudável.
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